quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Crônicas hedonistas: perda

Separar é estranho. Na verdade, não é a perda que é estranha e sim a ausência. Nos casamentos, amizades, ou qualquer outro tipo de relacionamento, se separar do outro se assemelha a morte. A diferença é que o outro permanece vivo! Isso mesmo. Alguém que você compartilhou a sua vida, teve filhos, fez planos, dividiu segredos, teve alegrias e tristezas, em alguns casos, de uma hora para a outra, desaparece.

A morte psicológica é usada nos consultórios como estratégia para o desprendimento do eu para com o outro. É compreensível. Curtir o luto, sentir as dores da ausência. "Enterrar o outro". Tudo isso serve como exercício de desprendimento, mas, no fim das contas, o sujeito ausente continua vivo! E se ele surgir na rua, cruzar com você no restaurante? Seria um morto-vivo? Reencarnou no mesmo corpo? Clonagem?

Essas "muletas psicológicas" são discutíveis, pois dão a impressão ao sujeito de poder conviver com a perda do outro. Não a perda da morte e sim da separação. Nesses casos, enterrar o outro é o mesmo que escondê-lo no armário. Poupa o sujeito de lidar com o inevitável: dói, deixa cicatrizes e muda a forma de visualizar as coisas. Isso se chama subjetividade. Todos somos recheados de aspectos que nos formam enquanto sujeitos, incluindo ai as cicatrizes, angústias, tristezas, separações, traumas, descontentamentos e temos que conviver com isso, queiramos ou não. Quem não esta afim de compartilhar essas coisas viva em um bunker sozinho ou vá morar na lua. Tanto faz.

No fim, lidar com a ausência é lidar com nós mesmos. Com os nossos egoísmos, fraquezas, fragilidades, incapacidades. Olhar pra si e visualizar as limitações. Com esses pontos não podemos colocar o pescoço dentro de um buraco ou mesmo fazer um funeral. Não há como correr. Ter que lidar se faz necessário. É uma questão vital.

Como já diziam os gregos, cuidar de si mesmo é cuidar do outro. É preservar os outros que permanecem em nós. Cultivar as suas lembranças e aquilo que deles nos fizeram Eu.


Já arrumei os livros e joguei fora os papéis que não interessavam mais.
Limpei o quarto, lavei o banheiro e o carro.
Muita leitura: poesia, alta gastronomia, letras e sociologia.
Comprei camisa, relógios, livros.
Muito sono.
Redes sociais já não servem de nada.
Ando tendo excesso de tudo.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Cidade

Imagem: Paris, autor desconhecido.


Sinto uma atração pelas cidades. Passar férias pra mim não é escapar pra algum lugar distante de gente, de barulho e da rotina das cidades. É o oposto disso tudo. Beber a cidade. Sentir a cidade. Ficar deslumbrado com as suas luzes e achar interessante o fluxo dos carros e dos pedestres. Viver e respirar as cidades. Ver deslumbramento em suas cores e em suas nuances. Ser engolido e se deixar digerir por ela.


Obs: sexta tem nova postagem. Continuação das crônicas hedonistas.