domingo, 11 de novembro de 2007

Coelhinho: primeira parte

Nas últimas semanas tive mais um encontro dos mais agradáveis com a arte. Ao ver o mais recente conceito visual do Kanye West, impressionei-me com uma coisa em especial. O urso, marca registrada da sua carreira, permanecia nas capas de disco, nas camisetas e em todo o material do cantor. Ele agora já não era mais o urso tímido e triste de College Dropout, o primeiro trabalho de Kanye West. Nem mesmo o experimentador de emoções e sentidos de Late Registration nem de Late Orchestration. O urso que havíamos acompanhado nos último anos tornou-se adulto e quis o mundo em Graduation. Esta mudança foi proporcionada, dentre outras coisas, por essa impressão que tive logo que me deparei com a figura do nosso querido urso. A forma que ele foi retratado era totalmente diferente dos demais até então. E isso foi proporcionado pelo trabalho de um artista japonês chamado Takashi Murakami.

Na verdade essa só foi a primeira impressão sobre o trabalho de Takashi. Ao me deparar com seus outros desenhos, pude sentir um artista contemporâneo florescente, que lida em seu dia a dia com vários tipos de suporte, e que trás como característica principal a riqueza em cores e desenhos. Impressionei-me com uma seqüência em especial. Todos os desenhos relacionados a figura do Kaikai me afetaram de maneira precisa. Kaikai é o "coelhinho" que adotei e que ilustra o avatar deste espaço e dos outros que faço parte. Este desenho e outros que retratam o universo onde Kaikai está inserido me chamaram a atenção por vários motivos. Entre outros, por trazer uma série de referências de todo um movimento presente na arte, filosofia, na moda e no cotidiano. Seus trabalhos vem recheados de Pop art, de mangá, de uma potência expontânea em um movimento livre e burlesco. Suas ilustrações estão presentes nos museus, mas também em camisas, bonés e até em bolsas ricamente coloridas, desenvolvidas junto com Mark Jacobs para a Louis Vuitton.

Costumo pensar Kaikai e todo o seu universo em um caminho que vai ao largo da Hello Kitty, por exemplo. Seria uma espécie de anti-Hello Kitty, se pudéssemos imaginar algo do gênero. A construção dos significados presentes nos desenhos passa por assumir que existe o ridículo, o bestial e o belo e tudo isto pode funcionar em um mesmo espaço, circular em um mesmo tempo. E que, além do mais, tudo isso pode conviver imprimindo um ritmo a paisagem que possibilita um outro tipo de contato do espectador com a obra de arte. Nesta seqüência, Takashi Murakami consegue mesclar os sentidos, potencializando sempre a energia que estão reunidas nas cores, nos desenhos abstratos e em figuras como um urso e nas imagens tridimensionais. Tudo se torna alegria, potência, beleza e desvario.



Trilha sonora: Maria Bethânia, Rosa dos ventos.