terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Coelhinho: segunda parte


Takashi Murakami. Mememe No Kurage, 2005.

Ao me deparar com Kaikai, algo de diferente aconteceu. Não sei dizer ao certo. Não sei se foram as cores, os traços ou a forma de retratar as personagens que parecem retirados de um sonho surrealista.

Kaikai me lembra o Mágico de Óz, me lembra o Labirinto do Fauno. É uma imagem que remete a um imaginário fantástico . Faz suscitar cheiros, contornos, texturas. Fábulas que embalam e fazem lembrar momentos dos mais diversos.

Por falar nisso, esta semana vai ser exibido na tv aberta Closer. Isso me fez lembrar da primeira vez que assisti esse filme. Bem, confesso logo de início que no dia que sentei naquela sala de cinema jamais imaginei que isso fosse me afetar de maneira tão profunda.

Havíamos saído de casa para mais uma sessão de cinema em um sábado a noite qualquer. Eu tinha algumas informações vagas sobre o filme. Sabia que era dirigido por um veterano das telas que filmava uma história sobre relacionamento e sobre verdade com um quarteto de atores bem conhecidos. Belos rostinhos em um diretor que eu não conhecia em um filme sobre relacionamentos. Por que não?

Esperei que a sala escurecesse e virei para dar um beijo antes de começar a sessão. Pois bem, esse beijo mais pareceu um beijo de despedidas, dado antes de se tomar fôlego e tentar atravessar os cinqüenta metros por sob a água.

Foi mais ou menos isso que aconteceu. Ao iniciar The Blower's daughter enquanto os créditos Warner apareciam respirei o mais profundo que pude e submergi.

O filme todo me afetou. O jornalista e escritor falido me afetou. O médico onanista me afetou. Afetou-me a fotógrafa que se passa por Julia Roberts no início da película e logo depois encontra-se mergulhada por sob um mar de máscaras. Afetou-me a ternura, a vontade de amor e a sensibilidade juvenil de Claire. Alguém que possui um amor que ultrapassa as barreiras da verdade, da mentira, da dissimulação. Afinal de contas, ela só quer amar mais alguém. Finalmente um último afetar-se: a trilha sonora. E não foi só a trilha sonora por ter músicas bonitinhas e melosas que falam de ausência e de amor, mas sim porque tudo isso é aplicado na dose certa. Nem mais nem menos. A trilha conta o filme mesmo que ele fosse completamente mudo.

Esse mergulho foi feito em águas profundas. Durante a apnéia vários pensamentos me ocorreram. Especificamente sobre as nossas máscaras e a elas. Como caminhamos com tantas a tiracolo. Como nossas ações, nossos sentimentos, nossas opiniões, como tudo isso está povoado de tantas outras que nos camuflam, fazem seduzir, afastam e aproximam. Como essa fantasia faz parte de nós de maneira intrínseca, sendo quase um complexo mosaico de olhos, bocas e narizes que mudam com freqüência. Somos assim. Humano demasiado humano.

Bem, naquele dia me tornei recordista em apnéia. Lembro que recobrei fôlego e voltei ao mundo dos vivos depois de mais de sete dias. Esses dias, pensando, pensando...

Nos sete dias senti um pouco em mim de todas as fábulas que me percorrem. Calcei os sapatinhos vermelhos de Doroty, vesti uma máscara multicor, peguei corajosamente na mão do fauno e adentrei de cabeça no mundo de Kaikai...

domingo, 11 de novembro de 2007

Coelhinho: primeira parte

Nas últimas semanas tive mais um encontro dos mais agradáveis com a arte. Ao ver o mais recente conceito visual do Kanye West, impressionei-me com uma coisa em especial. O urso, marca registrada da sua carreira, permanecia nas capas de disco, nas camisetas e em todo o material do cantor. Ele agora já não era mais o urso tímido e triste de College Dropout, o primeiro trabalho de Kanye West. Nem mesmo o experimentador de emoções e sentidos de Late Registration nem de Late Orchestration. O urso que havíamos acompanhado nos último anos tornou-se adulto e quis o mundo em Graduation. Esta mudança foi proporcionada, dentre outras coisas, por essa impressão que tive logo que me deparei com a figura do nosso querido urso. A forma que ele foi retratado era totalmente diferente dos demais até então. E isso foi proporcionado pelo trabalho de um artista japonês chamado Takashi Murakami.

Na verdade essa só foi a primeira impressão sobre o trabalho de Takashi. Ao me deparar com seus outros desenhos, pude sentir um artista contemporâneo florescente, que lida em seu dia a dia com vários tipos de suporte, e que trás como característica principal a riqueza em cores e desenhos. Impressionei-me com uma seqüência em especial. Todos os desenhos relacionados a figura do Kaikai me afetaram de maneira precisa. Kaikai é o "coelhinho" que adotei e que ilustra o avatar deste espaço e dos outros que faço parte. Este desenho e outros que retratam o universo onde Kaikai está inserido me chamaram a atenção por vários motivos. Entre outros, por trazer uma série de referências de todo um movimento presente na arte, filosofia, na moda e no cotidiano. Seus trabalhos vem recheados de Pop art, de mangá, de uma potência expontânea em um movimento livre e burlesco. Suas ilustrações estão presentes nos museus, mas também em camisas, bonés e até em bolsas ricamente coloridas, desenvolvidas junto com Mark Jacobs para a Louis Vuitton.

Costumo pensar Kaikai e todo o seu universo em um caminho que vai ao largo da Hello Kitty, por exemplo. Seria uma espécie de anti-Hello Kitty, se pudéssemos imaginar algo do gênero. A construção dos significados presentes nos desenhos passa por assumir que existe o ridículo, o bestial e o belo e tudo isto pode funcionar em um mesmo espaço, circular em um mesmo tempo. E que, além do mais, tudo isso pode conviver imprimindo um ritmo a paisagem que possibilita um outro tipo de contato do espectador com a obra de arte. Nesta seqüência, Takashi Murakami consegue mesclar os sentidos, potencializando sempre a energia que estão reunidas nas cores, nos desenhos abstratos e em figuras como um urso e nas imagens tridimensionais. Tudo se torna alegria, potência, beleza e desvario.



Trilha sonora: Maria Bethânia, Rosa dos ventos.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

O bom filho a casa torna



O ferreiro voltou e com ele trouxe boas novas. Acessem o endereço eletrônico da Revista Aulas e vejam o dossiê mais recente. Ele convida a pensar Foucault, a pensar com Foucault. O Dossiê Foucault apresenta um conjunto de artigos, vídeos e resenhas de pesquisadores de todo o Brasil. Em parceria com José Ernesto Pimentel publicamos Foucault: da microfísica à biopolítica.

Vale a pena conferir toda a revista: http://www.unicamp.br/~aulas/index.htm

Bons estudos!


Trilha sonora: The graduate, hosted by Kanye West.